quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Estatuto e Perfil de heroi nacional

O QUE ESTARIA POR DETRÁS DE TANTA CORRERIA NA DEFINIÇÃO DO ESTATUTO E PERFIL DO HEROI NACIONAL?

Tenho acompanhado o debate sobre Herois Nacionais. Devo confessar que é-me deveras doloroso ouvir isso. Mas, enfim, é a vida. É como diz um adágio brasileiro, « Se você mantém a calma, quando todos perderam a cabeça, é porque você não captou o problema».

Na verdade, são poucas as pessoas que ainda mantêem o mínimo de calma quanto a este problema. Eu, até ha bem pouco tempo, trivialisei este assunto. Todavia, não será pela sua lucidez que hoje venho sobre ele cogitar, mas sobretudo pela sua impertinência objectiva.

Três aspectos sustentam ou pretendem sustentar a minha tese: (1) sobre o processo histórico não divulgado, (2) sobre a correria dos mais velhos à procura de um lugar «condigno para repousar em paz» e (3) sobre os poderes do Presidente da República de Moçambique.

1. Sobre o processo histórico não divulgado

Não compreendo: já é lugar comunm dizer que a história de Moçambique deve ser reescrita. Eu digo o contrário. Parte da História de Moçambique deve ser concluída. Não existem heróis clandestinos. Não devem existir heróis desconhecidos. Todos herois deveriam ser bem conhecidos: sua história, seus feitos, sua relevância bem como uma bibliografia relevante sobre o facto. Voltarei a falar desse assunto na útlima parte desse texto.

Partindo do princípio de que a heroicidade de um indivíduo incorpora em si a noção nacionalista, importa fundar as raízes de Moçambique e da moçambicanidade. Esta tarefa ainda nem começou. Há pouca coisa escrita sobre os reinos e impérios Moçambicanos. Para além do Império de Gaza e a controversa figura de Gungunhana, nada mais se fala. Propositadamente ou não, os Makombe da região Centro do país apenas se menciona quando se fala da resistência à ocupação efectiva de Moçambique do século XIX. Mesmo assim, o livro de História de Moçambique Vol.2 apenas dedica 10 páginas de A5 ao passo que o de Gaza constitui um longo e detalhado capítulo.

Sobre a resisência do Norte praticamente não se fala, apesar de ter sido a última região do que é hoje Moçambique a ser opucada efectivamente pelos portugueses. José Medeiros, numa tentativa de revitalizar aquela história acabou privilegiando os portugueses ao abordar apenas aspectos económicos da Companhia do Niassa.

Não existe nenhuma bibliografia aprofundada sobre os Xeicaods e Sultanatos da Costa nortenha de Moçambique. Apenas uma 20 páginas na História de Moçambique Vol 1 resume um século da resistência de um povo com grande mosaico cultural.

Guaza Muthini é anualmente celebrado, com honras e pompas de Estado, ao passo que os Macombes de Bárue, que resistiram á ocupação colonial e cuja derrota só foi possível graças à intervenção do corpo expedicionário de SABC de Cecil Rhodes – esse colono Britânico com interesses na vizinha Rodésia! Nada se lembra sobre eles, dando a sensação de que a resistência apenas existiu no Sul de Moçambique.

A PARTICIPAÇÃO do Presidente da Rpública em Cerimónias Tradicionais como abertura da época de Canhú, apenas realizada no Sul de Moçambique deveria ser compensada através da valorização e respeito de outras culturas representativas do Norte e Centro do país, constituindo assim um manifesto esforço político na consolidação da unidade nacional.

Enfim, é exactamente isso o que falta. Urge documentar a história do país. Enquanto determinadas culturas e regiões do país forem marginalizadas da emancipação política ao longo da história através da pesquisa científica, o debate sobre os heróis nacionais parecerá uma tentativa de acomodar interesses imediatos e vontade de resolver contendas do actual cenário político.

Enquanto a história de uma determinada região se mantiver bibliografica e cientificamente bem apetrechada em detrimento da outra, continuaremos a assistir essa marginalização cultural (que pode ser invlountária ou propositada). Dessa marginalização resultará invariavelmente a inexistência de herois nacionais de outras regiões do país.

Chegados até aqui, proponho o meu primeiro ponto de partida: refundar a moçambicanidade através da divulgação nacional da História dos moçambicanos, fazendo-se um esforço enorme em saleintar a contribuição de cada cultura, de cada região bem como de cada tradição. O ARPAC possui um grande manacial sobre isso. PORQUÊ NÃO DIVULGA?

2. Sobre a correria dos mais velhos à procura de um lugar «condigno para repousar em paz»

Sabendo de antemão que todos os heróis que repousam na Cripta bem como outros que no dia 3 de Fevereiro são recordados pertencem á uma determinada época da História de Moçambique, época essa não muito bem estudada e documentada, importa reflectir se não estariamos perante um problema que emerge dentro dessa mesma clique e que se pretenda dirimir à custa de um debate fútil!?

A Frelimo de 1964 é diferente do PARTIDO FRELIMO de 2006. Todavia, a actual Frelimo detêm todos os direitos de uso do nome, história e processo de libertação nacional. Esse facto suscita muita inquietação no seio de partidos de oposição que invariavelmente se sentem excluídos de um processo de libertação nacional que deveria ser pertença/património de todos os moçambicanos mas que, a avaliar pelo discurso da Frelimo, parece pertencer àqueles que puderam chegar até 07 deSetembro de1974 como ainda membros do Partidão. Não admire pois que alguns duvidem da heroicidade de Adelino Gwambe (nem eu sei) ou outros quaisquer que, discordando dos ideiais ou não, preferiram enveredar por outros caminhos, criando seja outros partidos, seja preferindo viver em outros países sem contudo abdicar da luta.
Daí nasce a desconfiança desse debate. Daí a racionalidade da «resistencia dalguns» sobre a pertinência. É que se quisessemos escolher a partir de hoje até próximo ano 50 heróis nacionais, fossem quaisquer os critérios nacionais, teriamos o seguinte cenários:

1. Políticos: - TODOS DO PARTIDÃO
2. Sociedade – Cidadãos maioritariamente proveneintes da Cidade de Maputo, Gaza e Inhambane e alguns perdidos do centro e norte do país
3. Heróis da resistência à Ocupação efectiva de Moçambique: Gungunhana e seu império mais alguns regulados de Maputo e Inhambane
4. Patrimónios Culturais mais sonantes: Chibuene, Manyikeni, Khambine, Chaimite, Marracuene, Ilha de Moçambique, e talves a terra dos Mataka em Niassa
5. Povo mais resistente à ocupação colonia: Machanganas.
6. Tradição mais bem documentada e bibliografada: Thonga/Stonga/Ronga
7. Povo mais traidor aos ideiais nacionalistas: os do centro e norte do país, a avaliar pelo números dos chamados traidores da nação: Joana Simeão, Uria Simango, Lázaro Kavandame, Adelino Gwambe, e outros
8. Povo mais fiel: Makonde

Atenção, esse é apenas um cenário baseado no meu instinto. Mas também não me ilibo da responsabilidade daí decorrente.
Por isso, digo mais uma vez: o debate devia ser precedido por um projecto de investigação serio da história de Moçambique.

3. Sobre os poderes do Presidente da República de Moçambique

Etão, que fazer?
Acho eu que o Presidente da república tem direito inalienável de deliberar sobre quem deverá ser herioi nacional. Na dúvida, tem um conjunto de conselheiros e o proprio Conselho de Estado para o ajudar. Temos que confiar nas nele e no seu elenco.
Mais, ser heroi não constitui a única forma de reconhecer os melhores cidadãos deste país. Há várias outras alternativas. Pior, hoje pode alguém morrer e não ser declarado heroi para 20 ou 30 anos depois a nação o reconhecer e declara-lo Heroi Nacional. Aconteceu com Bocage e Camões em Portugal. Por isso, o debate é imperinente, exactamente porque os seus mentores pretendem saber hoje e antes de morrerem sobre a possiblidade de, após a sua morte, serão ou não herós, conhecidos que forem os seus termos de referência. Coisa má essa!
Porém, para estes, o Presidente tem saída: condecorá-los com Ordens, Grã-Cruzes e outras condecorações existentes ou mesmo se possível, fundando outras.
Espero ter metido mais água nesse debate. Reajam.

Obrigado

Egídio Guilherme Vaz Raposo
RESEARCHER
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