segunda-feira, março 24, 2008

DISCURSO DO PRESIDENTE ARMANDO GUEBUZA NAS CERIMÓNIAS DO 40º ANIVERSÁRIO DO DESAPARECIMENTO FÍSICO DE TOMÁS NDUDA

Ilustre família Nduda;
Senhor Governador da Província de Cabo Delgado;
Senhores Membros do Conselho de Ministros;
Senhores Vice–Ministros;
Senhor Administrador do Distrito de Muidumbe;
Ilustres Convidados;

Caros Compatriotas.
De muitos cantos do nosso belo Moçambique convergimos para Muidumbe com o objectivo de dar continuidade ao movimento nacional de celebração da vida e obra dos nossos heróis tombados na Luta de Libertação Nacional, há 40 anos. Este movimento foi lançado no dia 10 de Outubro de 2006, com a homenagem ao primeiro Chefe do Departamento de Segurança e Defesa, Filipe Samuel Magaia assassinado por balas inimigas no interior do Niassa.
Ao longo deste ano, e nos próximos, haverá mais nacionalistas cuja vida e obra deve ser celebrada e exaltada, do Rovuma ao Maputo e do Indico ao Zumbo, por todos e por cada um de nós. Participemos e diversifiquemos as formas de recordar estes combatentes da nossa libertação.

Hoje viemos homenagear Tomás Ndunda, nacionalista abnegado e combatente destemido, que as terras de N’Chigama, Posto Administrativo de Nampanha, neste Distrito, viram nascer. Neste local se juntam hoje muitos combatentes que com Nduda marcharam em muitas frentes de batalha. Os testemunhos que acabámos de ouvir dos seus companheiros de luta constituíram-se num emocionante desfiar das suas virtudes de valoroso lutador nesta Pátria de Heróis.
Viemos a Muidumbe:
  • para ver as terras que Tomás Ndunda palmilhou;
  • as árvores que trepou e nelas se abrigou do calor escaldante; e
  • para conviver com a sua família, amigos e companheiros da longa mas exaltante caminhada rumo à nossa libertação.

Sobretudo, viemos, como sempre declaramos, reiterar que pegámos na arma do nosso companheiro Tomás Nduda e prosseguimos com a luta até à vitória final. Viemos reafirmar que, como ele, continuamos a realizar, pedra a pedra, o sonho de um Moçambique mais unido, em Paz e enraizando a democracia que, com ele lançámos os seus alicerces. Continuamos igualmente empenhados na construção da prosperidade do nosso Povo e a assegurar que este seu Moçambique, o nosso Moçambique, ocupe o seu devido lugar na Comunidade de Nações.

Minhas Senhoras e Meus Senhores
A evocação da memória dos nossos heróis perpetua a relação que com eles devemos sempre estabelecer e manter. Sobretudo, este é um acto de reconhecimento e exaltação do seu papel na construção da nossa Pátria Amada. Eles, como os nossos antepassados, os nossos mitos e lendas, as nossas datas e locais históricos, são esteios da nossa própria personalidade, como um Povo, e engrandecem a nossa moçambicanidade, rica na sua diversidade e dinâmicas. Em todo este património assenta o nosso sentido de auto-estima e de orgulho por sermos donos e responsáveis pelos destinos da nossa Pátria Amada e de sermos continuadores destes nossos heróis e guardiões do património que por eles nos foi legado. É também neste contexto político, histórico, social e cultural que se alicerçam as nossas convicções de que, como vencemos a dominação estrangeira, também venceremos a fome, a miséria e a carência de bens essenciais à vida. Numa palavra, a vitória sobre a pobreza está ao nosso alcance. Que, como ontem, cada um de nós continue a fazer a sua parte nesta nova luta.

Minhas Senhoras e Meus Senhores
A trajectória de Tomás Nduda que hoje celebramos e exaltamos, faz-nos reviver momentos empolgantes da nossa libertação da dominação estrangeira e da bravura e determinação dos moçambicanos, em todo o nosso solo pátrio, de realizar os seus sonhos. A sua incorporação no exército colonial em nada corroeu a sua vontade de fazer a sua parte para a nossa libertação do jugo colonial. Pelo contrário, esse convívio com elementos do exército português, em Moçambique e em Macau, nele adensou a sua consciência e determinação em continuar a desmistificar a falsa crença de que a raça, a tribo ou a crença religiosa eram critérios para a diferenciação de homens e mulheres em Moçambique e no mundo. A sua incorporação também lhe deu ricas lições de táctica militar e de manipulação de artefectos da guerra que lhe vieram a ser úteis mais tarde.


O trabalho forçado a que eram sujeitos os seus compatriotas, o massacre de Mueda e os ventos da mudança que sopravam na Africa Austral, incluindo a Independência do Tanganyika, impeliram Nduda a dar o próximo passo. Ele integra, assim, a rede clandestina do nosso movimento de libertação e assume as tarefas que lhe são confiadas, com denodo e sentido de missão e pátria. Ele consegue encontrar formas criativas para iludir a vigilância colonial e realizar um trabalho de mobilização e de recrutamento de mais compatriotas para o movimento de libertação. Esta experiência vai também ser-lhe útil nas próximas tarefas que recebe.

Ele viria a ser treinado como guerrilheiro nas zonas libertadas em Moçambique, facto que testemunha a presença permanente e crescente dos combatentes no interior, logo depois do desencadeamento da Luta de Libertação Nacional. Para que estes treinos político-militares fossem realizados havia necessidade:

  • de se criarem rotinas;
  • garantir-se a produção; e
  • a assistência social e logística; isto é,

era necessário criar, sofisticar e exercer a administração política social e económica destes espaços geográficos, livres da dominação estrangeira. A transformação de instituições de ensino em quartéis, como aconteceu em Nambuda, era sinal de que o fogo libertador estava a ter um efeito directo sobre a máquina colonial, no seu todo, e a criar desespero no seio da instituição militar, em particular.


Os destacamentos por onde Tomás Nduda passou, como o de Inhambane, demonstram como, desde o início, colocámos ênfase na Unidade Nacional, a arma mais sofisticada que levaria à derrota de um numeroso e bem equipado exército colonial, apoiado por uma polícia política sanguinária, a PIDE, e por um sistema de administração racista e fascista. Baptizar as bases com esses nomes retirados da toponímia nacional tinha, como um dos objectivos, cultivar e cimentar a consciência, nos combatentes da nossa Luta de Libertação e na população em geral, de que Moçambique se estendia do Rovuma ao Maputo. Tinha também como outro objectivo demonstrar que a guerra prolongada em que se encontravam engajados era a continuação de outras guerras de resistência que tinham tido lugar em diferentes pontos geográficos do seu Moçambique que davam nome a estas bases e destacamentos.

Hoje também notamos, com muito agrado, como, no quadro da consolidação da Unidade e consciência nacionais, localidades, artérias urbanas e infra-estruturas, como escolas, ostentam nomes de heróis, de locais e de datas históricas nacionais. Por exemplo, uma das ruas da nossa cidade capital ostenta o nome de Tomás Nduda este nacionalista cujo quadragésimo aniversário da sua morte hoje celebramos. Outras iniciativas de moçambicanização da nossa toponímia estão em curso, facto que louvamos e encorajamos, exortando para a sua célere conclusão.

Tomás Nduda também se destacou pela sua bravura, tenacidade e capacidade de mobilizar o nosso Povo para a luta. Homem sem pavor, não hesitava em enfrentar o inimigo no seu próprio reduto, onde este pensava que se sentia mais seguro: os seus próprios quartéis. Foram várias as missões de mobilização do povo, de reconhecimento de alvos e de combate em que esteve envolvido. Em todas estas missões ele revelou-se um nacionalista abnegado e combatente destemido, sempre comprometido com a causa do Povo Moçambicano. Ele encontra a morte, justamente no cumprimento de mais uma destas missões, em Nambuda.

Quarenta anos depois da sua morte em combate, aqui estamos, Camarada Tomás Ndunda, para dizer que o sacrifício que consentiste, na sua forma mais alta que é a da oferta da própria vida, não foi em vão. O Moçambique porque lutaste já é livre e independente. O futuro risonho com que sonhaste para o teu Povo está em construção, com a paz e com a Unidade Nacional como nossas fontes de inspiração permanente.
A jornada é ainda longa como podemos testemunhar mesmo aqui em Muidumbe. Muitas são ainda as necessidades básicas a satisfazer, mas estamos comprometidos, como tu também estiveste, em transformar os recursos de que somos dotados, incluindo os intelectuais, para continuar a construir este nosso belo Moçambique. A luta contra a pobreza será, como foi a luta de libertação nacional, uma luta prolongada, mas como ontem, hoje também reafirmamos a certeza de que desta nova luta também sairemos vitoriosos. Este é o monumento que estamos a construir em tua homenagem e em homenagem a todos aqueles que deram as suas vidas por esta Pérola do Indico.

Reiteramos a nossa exortação para todos participarmos neste movimento de exaltação da vida e obra dos nossos heróis. Este é, acima de tudo, um movimento de consolidação da nossa auto-estima e expressão do orgulho pela nossa História e feitos.

Viva a memória inesquecível de Tomás Nduda;
Viva a Unidade Nacional;
Moçambique hoye!
Muito obrigado pela vossa atenção.

Muidumbe, 23 de Março de 2008
Share/Save/Bookmark