segunda-feira, dezembro 14, 2009

Sobre a Carta do Marcolino Moco

Vi a carta de Marcolino Moco no blog do meu amigo Custódio Duma e, quando a lí, a pergunta que me ocorreu e deixei lá registada foi: “O MPLA era ainda mais fechado no periodo em que o MOCO era Primeiro-ministro e no entanto esse manifesto nunca aconteceu! Porque só acontece agora? Em todo caso, está de parabéns por a ter escrito em algum momento”.

Agora, repenso no manifesto e sinto que por mais coerente que ele tente ser, a razão crítica e a ironia o dissolvem completamente.

Preocupa-me e sobremaneira a instantânea “capacidade visionária” que assola muitos líderes, não poucas vezes, apenas quando se sentem distanciados dos centros decisórios.

É que o Moco, já foi PM no governo do MPLA. Foi ainda Secretário-geral do Partido. Durante o tempo em que exerceu tais cargos, nenhum facto, ou realidade, aponta no sentido deste ter pressionado para a posição que hoje avança no seu manifesto, sendo, por isso, inevitável olhar para a carta deste sem buscar significações da realidade dirigidas a um passado do qual ele era parte. Aliás, se o MPLA está como ele diz estar, em parte ele é também responsável.

A pretensão de traduzir o lado errado dos factos, deixa de ser legítima, quando é trazida e de forma extemporânea por um actor que já viveu a vida deste partido e de forma intensa na qualidade de Secretário-geral.

Na eventualidade do seu posicionamento ser antigo, o que faz com que não discuta e usando os mesmos métodos de ontem? (discussões internas).

O que faz Moco agir desta forma?

Permitam-me especular e tomara que o tempo nos prove o contrário:

É manifesto que a carta não é dirigida a quem se diz ser dirigida. Também é manifesto que a mesma não se queria secreta.

Uma pergunta que não cala neste momento é: a quem é dirigida a carta do Moco?

Quando Moco nos presta ao seu papel de testemunha e actor de uma conversa com o Dino Matross onde traz a si a glória e a condição de homem das virtudes, me parece, estar a dar recados claros: (i) a liderança do MPLA e (ii) a alguns quadrantes do mundo, hostis ao governo de dia em Angola.

A liderança no sentido de que as circunstâncias o obrigam a afastar-se mais do partido e ao mundo no sentido de aberto a propostas.(um verdadeiro convite a contratar).

Apesar do tom didáctico e moralista presente no manifesto, o mesmo, é revelador (quanto a mim) das ambições do seu actor, que sabendo que não mais tem espaço no seu partido, procura uma forma de galvanizar a opinião pública nacional e internacional, para a sua causa. Na verdade, excita as mentes contestatárias da governação do MPLA e daqueles que reconhecem que a UNITA, já não é alternativa ao poder.

E porque o mesmo texto foi apresentado na esfera da similaridade com a realidade moçambicana, deixem-me então,buscar mais uma hipótese que não é de descartar: se os outros que acreditam que a RENAMO já não é força capaz de fazer frente a FRELIMO, apoiaram (e continuam a apoiar) o MDM, também em Angola estes outros, já se deram conta de que a UNITA já não é mais força capaz de fazer frente ao MPLA, pelo que procuram outras mentes, e nada melhor, que alguém de dentro e neste caso o Moco, que se acredita não só capaz de diminuir o gigantismo do MPLA, e por isso roubando seus votos, como também capaz de roubar votos da UNITA há muita dividida, sem contar que, apresentar-se-ia aos olhos de todos, como a ala moderada e renovada da própria MPLA, mesmo que separada desta.

Mas atenção a leitura dos factos, porque esta saída pode não acontecer em melhor altura, (o MPLA renovou no pôs guerra e com grandes impulsos de desenvolvimento a sua popularidade), o Cope da Àfrica do Sul, nos pode ajudar a pensar ou não?

Amosse Macamo


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