quarta-feira, agosto 19, 2009

A situação medica no meu Moçambique

por: Dino Foi
Amigos,

Hoje não falo de economia, tecnologia e muito menos política. Hoje vou estar na pele daquele Moçambicano, trabalhador que pode pagar as suas despesas médicas com o suor do seu trabalho mas que se sente frustrado. Frustrado porque mesmo podendo aceder a algum conforto social fruto de suor e trabalho digno, não consegue ter um tratamento médico condigno. Frustrado porque mesmo com dinheiro no bolso não consegue comprar medicamento básico como uma aspirina, frustrado porque alguém no Ministerio da Saúde decidiu consertar algo que não estava quebrado e como resultado as farmacias nao conseguem ter os medicamentos importados a tempo e, finalmente muito frustrado porque este mesmo Ministério, mesmo com os avisos de há muito tempo sobre a Gripe A, ainda não procurou meios de se preparar para esta pandemia e, agora a Gripe chegou.
Há cerca de 2 meses tive amigos estrangeiros a visitarem Moçambique pela primeira vez, quando os fui buscar na sala de desembarque a primeira reclamação foi de que não tinhamos nenhum equipamento para monitorar a gripe. E eu, inocentemente e quase que automaticamente respondi: temos sim, só que o check é feito no aeroporto de Johannesburg, então tudo o que vem a Moçambique está checado. Não sei de onde tirei isso mas foi o que me veio na cabeça naquele momento e pronto já me tinha justificado.Algumas semanas mais tarde tive de viajar à Ásia e, foi impressionante ver o que se passava em Hong Kong, não só uma boa parte dos passageiros tinha máscaras mas do outro lado TODO aquele que entrava para o território, passava por uma medição não intrusiva de temperatura e, todo aquele que tivesse temperatura acima do normal ia para um teste médico.Eu que estava de passagem não me dei a maçada. Chegado ao meu destino, Taiwan, o mesmo exercício se passava e desta vez tive de passar pelo processo, mas felizmente nada eu tinha. Dez dias depois regresso à Moçambique, lembrei me da "mentira" que eu acidentalmente havia dito aos meus amigos e, como só para confirmar decidi ficar uma noite em Johannesburgo, não vi aparelho nenhum. No dia seguinte passo a segurança e me vejo na sala de embarque e... nenhum aparelho estava ao meu alcance. Tremi um pouco e subi o nosso 737-200 que nos levou ao Maputo.
Chegados aqui vejo uma fila grande: havia um pessoal da saúde a perguntar aos passageiros se tinham sintomas de febre e, se as sentissem deviam-se dirigir ao posto de saúde mais próximo. Tremi um pouco mais.Duas semanas mais tarde a minha esposa começa a tossir que não parava, como está na fase gestacional temos evitado os médicos se não apenas o ginecologista. Desta era impossível evitar e lá fomos à clínica do Hospital Central. Lá 1,650 meticais fomos cobrados pela consulta de urgência e fim de semana, depois de uma seca de cerca de uma hora fomos atendidos. A médica fez este e aquele teste (verbal), usou o seu estetoscópio, mesmo a minha mulher tendo dito que sofria de febres não nos foi medida a temperatura. Fomos informados que deveriamos fazer o teste de malária e um hemograma completo. Chegados ao sítio de colher a amostra de sangue é que foi um inferno: a enfermeira que parecia estar de estágio não conseguia localizar a veia da minha esposa. Lá foi ela puxa aqui e puxa acolá, conseguiu localizar uma veia mesmo no pulso, lança a seringa como quem faz uma tacada de basebol, a minha mulher grita, ela puxa a seringa toda como que estando a usar uma bomba de ar manual e, obviamente o sangue veio às gotas, ela bombeia a seringa para dentro, retornando ar e sangue e depois puxou outra vez, aqui então a minha esposa deu um grito de afujentar um leão e lá tinhamos o sangue. A dor era terrível, o pulso ficou completamente verde por 48 horas e com uma dôr que a pobre da mulher se torcia toda. Amaldiçoei o oficial da minha empresa que inscreveu o meu seguro médico naquela clínica.
Uma hora passou e fomos ver a médica com os resutados, desta vez não era aquela que estivera. As perguntas foram as mesmas como a anterior, o que é estranho porque pensei que a primeira estivesse a rabiscar no processo da minha esposa. Eu então, o tradutor (o Português da minha esposa ainda é de Meu Mãe, Minha Pai) a deitar fumo pelas ventas, como se diz, mas lá eu me acalmei. A médica nos receita mel, limão e beber muita água (como se fosse necessário fazer medicina para saber esta fórmula) e, um xarope Benitussin que não existe em nenhuma fármacia no Maputo, não que tenha ido a todas mas depois de entrar em 8 delas vi que era um pesadelo.Gostava de falar do senhor Benitussin que não se encontra na praça. Tendo eu batido com a cabeça nas primeiras 4 farmácias, decidi perguntar o que de especial tinha este Benitussin que não se encontrava em nenhum sítio. Foi me dito que era um xarope tão bom tão bom (ainda não encontrei em nenhum sítio registado este xarope, o que se aproxima a ele é Robitussin da Wyeth Consumer Healthcare) que até uma criança poderia tomar, mas a nova ,metodologia de registo de medicamentos implementada pelo Ministério da Saúde faz com que medicamento como este leve pelo menos 6 meses só para registar mais o tempo do processo de importação. Felizmente as novas tecnologias não nos deixam mal e, comprei na internet Robitussin na internet e entregue na minha porta, alguém que vá queixar ao MISAU, mas não registei coisinha nenhuma.Como um mal não vem sozinho, peguei a gripe no domingo, sem querer culpar a coitada da minha esposa, tenho de reconhecer que a passagem foi automática. Lá estava eu naquela clínica.
Primeiro, o meu processo não é encontrado no sistema deles, depois é o primeiro médico que me haviam indicado que não estava. Sinceramente, para mim qualquer médico servia e, depois de uma "seca" de cerca de 45 minutos lá estava eu em frente do médico. Importa frisar que enquanto esperava pelo médico a minha mulher liga-me e, eu que não a tinha avisado que estava na clínica digo onde estava, ela diz me para regressar à casa porque ela tinha todos os medicamentos para uma possível gripe. Neguei porque queria um resultado médico, eu via a preocupação da mulher-contas, ela é muito aversa a contas desnecessárias e, naquela minha ida ela já estava a prever gastos desnecessários no médico (e foram), enquanto que podia-me medicar pessoalmente.Não vacilei, fui atendido pelo médico e as perguntas foram:Tosse?!SimTem febres?Um pouco, pelo menos na noite passada.Doi lhe a cabeça?Sim Ai fui receitado amoxicilina, vitamina C e aspirina, estas dua últimas soube logo que não existiam na farmácia da clínica! Parece um filme, né?

A odisseia não acaba aqui, no dia seguinte de tanto a minha esposa tossir ,decidimos que teríamos de ver qualquer ginecologista (não era o nosso médico porque não haviámos programado, queriamos alguém apenas), tendo dito que (não fez a sonda)o bebé estava em óptimas condições (como tenho saudades da sonda de 4D em Taiwan!), então tinha que tomar amoxiciclina e benacyclina, coisas que a coitada da minha mulher quase que jogou fora (a última vez que foi receitada medicamentos numa das clínicas paramos na sala de emergência da clínica da sommerschield das 2 de madrugada às 7 horas!). A questão não era da tosse como tal, mas sim o que o tossir poderia fazer ao feto, o que queríamos ver era via sonda a situação da herdeira. Lá chegamos às 16 horas (às 13:00 quando paguei a consulta não encontraram o processo da minha esposa e penso que até agora ela tem 4 processos e eu 6), a médica só nos atendeu às 18:25. Esta e aquela pergunta e lá fomos para o outro lado do consultório e, quando nós pensávamos que iamos ver o bebé a médica trouxe um outro aparelho para escutar o bater do coração do bebé. Lá estávamos nós frustrados e, o nosso pobre metical havia sido engolido, sem recebermos o serviço que precisavámos. Moral da história: não estamos preparados para gripe A nenhuma, se ela entrou mesmo em Moçambique, vamos morrer como galinhas. Não quero ser o mensageiro do mal mas com tanta falta de medicamentos que se verifica e falta de profissionalismo nas nossas instituições hospitalares o caminho é abismo.
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