quarta-feira, março 17, 2010

GERAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA OU GERAÇÃO DE FRUSTRADOS ? (Réplica à João Mosca)

Por: Rossana Fernando 
  
 Mais uma vez em Moçambique de férias em Nhamatanda, pertinho das cheias, mas com a minha querida familia, depois de mais uma jornada de trabalho e pesquisas pelas vilas mais desfavorecidas do continente Africano eis que deparo-me com os semanários de Maputo, onde a política e os negócios continuam a ser o prato forte desta pátria que me viu nascer e da qual me orgulho. 
  
 O texto que mais me interessou foi de um tal de João Mosca, que escreve uma coluna intitulada economicando, intitulado Geração da Independência, li-o três vezes para tentar perceber o alcance do seu texto, que em suma revendicava que, para além das gerações de 8 de Março e do 25 de Setembro, existia uma outra geração da independência. O colunista João Mosca da ainda a perceber nas entrelinhas que ele é parte desta geração da independencia, 
  
 Não sou perita de conceptualizações de gerações, mas sei que a geração do 25 de Setembro, a tal geração que lutou e libertou Moçambique do colonialismo tem como ponto de referência o dia 25 de Setembro de 1964, mas as ideias do nacionalismo em Moçambique começaram a vingar entre finais da década 50 e princípios da década de 60. Pela minha humilde percepção esta geração vai até ao ano da independência, ou seja 1975. 
  
 A Geração 8 de Março tem o seu ponto mais alto em 1977, no entanto, esta geração vem de antes de 1977, tendo-se tomado o 8 de Março de 1977 como um ponto de referência para uma geração que assegurou a independencia e a reconstrução de um moçambique pós-colonialismo. Esta é a geração que actualmente dirige o país, independentemente se esteve ou não naquela reunião em que o Presidente Samora Machel decidiu que era necessário assumir o desafio de consolidar a independencia nacional, ou se hoje identifica-se ou não com este ou aquele partido. 
  
 Mosca assume que há um esquecimento da geração da independencia, a pergunta é: porque é que o 8 de Março de 1977 não pode ser o ponto de referência dessa geração se os propósitos que defende são os mesmos ? 
  
 Os porta-vozes da geração 8 de Março provavelmente saiam de uma associação que foi criada por jovens dessa geração cuja adesão não limita a ninguem, muito menos ao Sr João Mosca. Não percebo porque faz uma grande associação entre a geração 8 de Março e aquilo que apelida de nomenklatura. Estará a dividir ou a criar conflitos no seio de uma geração? Com que objectivo ? Que eu saiba uma geração não é um grupinho de pessoas, mas sim toda uma classe de pessoas que vive e marca determinado momento da história. 
  
Que povo é esse que foi esquecido em 1977 quando Samora Machel discursou publicamente fazendo um chamamento à nação para um desafio do momento ? 
 A nova Geração da Independencia existe na mente do Sr João Mosca, mas tem que perceber que esta geração a que se refere e a que veio logo a seguir tem o epicentro no 8 de Março, uns eram mais velhos outros mais novos, mas era uma geração de jovens que iriam construir os alicerces do Moçambique pós-independencia. Tudo o que diz sobre a geração da independencia que João Mosca alega é o mesmo em relação a geração 8 de Março, envolvimento no projecto nacional de construção de uma nova nação. 
  
 Hoje são todos cidadãos na casa dos 50 anos, e tal como bem diz o Mosca muitos tornaram-se ou já eram membros da FRELIMO. Alguns deixaram de o ser, pelo menos desta FRELIMO. Por isso não vejo diferenças e não percebemo o alcance de João Mosca. 
  
 Estranhamente João Mosca fala de elites da geração da independencia (vou passar a chamar de sub-geração da independencia para facilitar até a mim própria na interpretação), jovens de origens sociais e raças diferentes, entregaram-se generosamente e mesmo ingenuamente a causas nobres, mesmo que idealistas uma sociedade justa, de igualdade de oportunidades, desenvolvida, moderna, apenas constituída pela raça humana, sem exploração. Não percebi também onde pretende chegar com esta sua discriminação de grupos. Afinal quem eram as elites do pós-independencia sr Mosca ? 
  
 As interpretações que existem em torno de algum grupo que o Sr João Mosca tentou criar com o seu texto provavelmente sejam resultado da discriminação que faz e que se fez ao longo dos anos deste grupo em relação aos demais, pensando que eram os senhores todos poderosos do império, achando que eram os únicos e eternos pensadores dessa geração e que só eles chegariam a tal nomenklatura que hoje não reconhecem. 
  
 Os pequenos-burgueses, esquerdolas e outras interpretações que o João Mosca faz referência encaixam-se naqueles compatriotas que não estavam interessados na independencia nacional em 1975, mas sim na exploração do novo regime para benefícios próprios. Estes concidadãos colocaram-se cinicamente do lado de Samora Machel e contra o colonialismo pensando que seriam os únicos assimilados que poderiam no futuro tomar conta da nomenklatura, mas para o seu azar esta geração 8 de Março, da qual não assumem, estranhamente, fazer parte, conseguiu provar que é possível viver sem os tais branquelas de esquerda e saudosistas camufulados . Acredito que não é o caso do Sr Mosca que mal conheço, mas é bom que saiba disto. 
  
 Não há nenhum espaço para uma geração da independencia quando temos uma geração 8 de Março, não façam confusão na mente dos mais jovens da geração da viragem, sob pena de a cada dia vir a público uma nova Mosca, Mosquito ou Abelha revendicar uma nova geração. Os Portugueses não têm absolutamente nada a ver com os pontos de referência das gerações 25 de Setembro e 8 de Março, a não ser o facto de les terem sido o mote destas gerações. O Dia 25 de Junho é o dia da independencia Nacional e não dia de geração alguma. 
  
 O Senhor João Mosca diz que existem nomes da sub-geração da independencia de reconhecido mérito e honradez, mas não cita nenhum. Agradeciamos que nos ajudasse a identificar, quem sabe tenham melhores argumentos para não assumirem que fazem parte da geração do 8 de Março. 
  
 A dado passo do seu texto o Senhor João Mosca diz que:  A grande maioria, porque não negros e que lutou pelo people empowerment, foi objecto do black empowerment silencioso mas eficaz. A maioria adaptou-se e hoje, possivelmente, agradecem esse black empowerment. Estará a dizer que a grande maioria desta sub-geração da independencia era de não negros? Está a falar de Moçambique ? de Lourenço Marques ? 
  
 Definitivamente Sr João Mosca, não tenho poucos receios de dizer que pretende desistabilizar toda uma geração com o seu texto,  que é um divisionista de primeira linha, que tem uma elevada dose daquilo que em muitas partes do mundo chama-se dor de cotovelo. Infelizmente estou pouco tempo na Cidade da Beira e não tenho oportunidade de estar em Maputo para conhecê-lo pessoalmente e dizer estas palavras de frente. 
  
 Não faço parte de nenhuma elite e talvês esteja também mais para a geração de 8 de Março do que para a “nova” geração da viragem, mas o Sr João Mosca demonstrou no seu texto algumas tendências discriminatórias de alto gabarito. Em alguns países por onde tenho circulado humildemente e com muito esforço pessoas como estas são motivo de uma repreensão muito forte por destrato ao legado dos países. Sei que neste Moçambique que pouco me vê por perto há uma grande libertinagem de imprensa e de opinião que permite que gente frustrada com a independencia e com o desenvolvimento diga em bom som que não há desenvolvimento e que os principais símbolos da Nãção não servem para eles, mesmo sendo pessoas que vivem, ganham salários gordos e abusam usando dinheiros públicos, e ninguem pia. 
  
 Sr João Mosca, saudosistas tentam a todo o custo recolonizar Moçambique desde 26 de Junho de 1975, um dia após a proclamação independencia, portanto há 35 anos. Nós os Moçambicanos tivemos mais de 500 anos de colonização, portanto, como pode perceber o nosso timming e o destes cidadãos é diferente. Não me venha hoje com estorietas de geração da independencia com uma maioria de não negros.

Fonte: O País 16.03.2010

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segunda-feira, março 15, 2010

Retratando as causas do elevado custo de vida em Moçambique

Por Gustavo Mavie


Maputo, 13 Mar (AIM) – Nos últimos tempos, quase todos os moçambicanos que vivem do salário, se queixam do elevado custo da vida, mas por aquilo que percebi são poucos os que sabem porque é que de repente passaram a ser homens e mulheres com bolsos ou bolsas furadas.

Que a vida está pesada para muitos é um facto inegável. Para tentar diagnosticar este problema que se reflecte pelo sumiço do dinheiro nos bolsos da maioria dos moçambicanos, decidi fazer uma aventura investigativa, valendo-me dos parcos conhecimentos económicos que aprendi na escola e de alguns dados visíveis mesmo para quem é leigo em questões económicas ou que não seja economista.

Da minha análise apurei como sendo uma das causas o facto de a maioria dos moçambicanos pagar actualmente pelos mesmos produtos básicos quatro vezes mais comparativamente há 15 ou 20 anos.

Este é o caso do arroz, cujo preço, há 15 anos, variava de 150 a 300 meticais, em função da sua qualidade, ou seja se era primeira, segunda ou terceira qualidades. Mas hoje o seu preço varia de 600 a 1.200 meticais.

O mesmo ocorre com a maioria dos produtos que integram a chamada cesta básica ou cabaz, e outros que, embora estejam fora deste grupo, são imprescindíveis à nossa dieta e saúde.

Com este facto, chega-se facilmente à conclusão que mesmo para os que viram os seus salários aumentar quatro ou mais vezes, esse incremento salarial traduz-se naquilo que em teoria económica se chama de aumento nominal, porque em termos realísticos, o seu salário real é o mesmo que há 15 ou 20 anos.

Assim, para quem há 15 anos ganhava 5.000,00 meticais e que passou a auferir agora 20 mil meticais, continua a auferir o mesmo salário em termos reais, porque a diferença de 15 mil meticais que agora aufere a mais, gasta-os na aquisição do mesmo cabaz que comprava quando ganhava 5.000,00 meticais, ou seja, a mesma quantidade de arroz, óleo, sabão, amendoim, peixe, frango e outros bens básicos.

Dito isto de um modo mais simples, este cidadão passou a ganhar mais 15 mil e que somados aos 5 mil que auferia antes, passou a comprar hoje os mesmos produtos que adquiria antes.

Assim, apenas teve um aumento de massa monetária e não um aumento real que possa lhe permitir levar uma vida melhor comparativamente há 15 anos.

Na verdade, a vida hoje está um “pesadelo” para a maioria dos moçambicanos, porque sempre que ocorre um aumento do salário mínimo e, por inerência disso, os restantes salários aumentam também numa função exponencial, o que os nossos agentes económicos têm feito é aumentarem também os preços dos produtos básicos na mesma proporção, como se o incremento salarial desempenhasse o papel de catalizador do custo desses bens.

Isto mostra que grande parte da nossa classe empresarial é desonesta, para não a rotular com outros nomes que a meu ver lhes seria bem mais merecido.

De resto, não é por acaso que temos hoje simples comerciantes a viverem em majestosas mansões e a coleccionarem luxuosas limousines e outros bens de luxo. É a revelação, isso sim, em ponto grande, do que tiram dos nossos bolsos.

Estes comerciantes agem de uma forma oportunística e a prova disso é o aumento imediato do preço dos produtos no mercado sempre que ocorre uma revisão salarial no país, como se o incremento salarial seja um catalizador dos preços dos seus produtos.

O que é espantoso e revelador dessa sua tendência de roubar do bolso dos consumidores, é o facto de a maioria dos produtos a venda, tais como o arroz, ser importado de outros países, daí que não faz sentido que eles aumentem o seu preço logo que haja um incremento salarial, como se os exportadores ficassem sempre atentos aos incrementos salariais em Moçambique.

O DILEMA DE GANHAR O MESMO SALÁRIO QUANDO SE TEM NOVAS DESPESAS INEVITÁVEIS E OUTRAS EVITÁVEIS

Também cheguei à conclusão que não é apenas o salário real da maioria dos moçambicanos que é matematicamente igual há 15 ou 20 anos porque, como agravante, passaram a ter mais despesas inevitáveis e que não tinham naquela altura.

Entre as referidas despesas contam-se o pagamento das propinas dos filhos na escola e universidade privadas que há 20 ou 15 anos eram todas públicas e gratuitas, a despesa da consulta nas clínicas privadas e aquisição dos respectivos medicamentos que, nesse tempo das “vacas gordas”, eram levantados gratuitamente nas farmácias dos hospitais públicos, mas que agora são espécie difícil senão rara de encontrar.

Na verdade, esta lista de novas despesas inevitáveis é tão longa que me escuso de enumerar tudo o que agora temos que pagar, mas que nessa altura era de borla ou então pagávamos valores simbólicos, como é o caso das rendas das casas da defunta APIE que as alienou aos privados, e que já são arrendadas a preços de ouro pelas pessoas que as compraram a um preço insignificante.

Outra despesa que faz das nossas vidas um verdadeiro inferno é a construção de casa própria, que antes era atribuída pela APIE em troca de uma renda condizente com o que se ganhava e não com o valor do imóvel. Hoje temos de construí-la por nossa própria conta com o mesmo salário real que se ganhava há 15 ou 20 anos, ou então com base num crédito bancário que nos custa uma pesada letra entre 10 e mais de 20 anos a pagar.

Entre as novas despesas que há 20 anos não faziam parte dos nossos gastos, conta-se a compra dos celulares e respectivos créditos que nos permitem falar, combustível para a viatura que antes não tínhamos e que, em muitos casos, adquirimos também através de um empréstimo bancário que nos consome mensalmente o já magro salário.

Na verdade, a letra que resulta de um empréstimo para o chamado consumo é dos piores “cancros” que enfrentamos hoje, porque é o mesmo que passarmos a ganhar menos do que devíamos.

Um empréstimo só não é pesado quando se destina a investir num negócio lucrativo e que nos ajuda a amortizar. De contrário, torna-se num fardo para quem se endivida para a compra de um bem, pior para um carro que, além da letra que se tem de pagar, consome combustível e exige uma manutenção periódica.

Mas para que este estudo seja o mais completo possível ou abrangente, há que incluir outros gastos que embora sejam caprichosos, são uma das causas que deixam alguns de nós sem “taco” no bolso, como é caso dos nossos Zumas confessos e não confessos, porque para além das despesas já enumeradas, eles têm outros encargos extras, porque têm de comprar outros celulares e créditos para todas as suas esposas e as suas “catorzinhas”, havendo os que vão muito mais além, a ponto de as comprar também carros e combustível para os terem sempre em movimento.

Mas há 20 anos, as “alfas” e “pitas”, como se chamavam então as concubinas e as “catorzinhas” de hoje, custavam apenas um par de sapatilhas plásticas da marca Melissa, que se compravam então em dólares nas chamadas lojas francas.

Contudo, as concubinas e as “catorzinhas” exigem hoje mesadas, propinas, construção de uma casa condigna para elas ou pelo menos uma alugada.

Se somarmos as antigas e novas despesas, acabam nos deixando os bolsos totalmente vazios e sem sabermos o que fazer da vida. Isto porque, o que aqui enumerei é apenas uma pequena parte do que temos de pagar todos os dias e meses.

Por exemplo, há 20 anos, as pessoas não tinham o desgastante fenómeno do encurtamento das distâncias pelos chapeiros. Só este caso fura os bolsos de muitos moçambicanos, principalmente para os que pagam para si e para os filhos menores que têm de ir à escola todos os dias.

Há 20 anos, podia-se viajar com o mesmo valor de um ponto para outro da cidade do Maputo nos autocarros dos TPM, e no caso dos operários e estudantes, desfrutavam de um forte desconto ou tarifa especial que os “chapeiros” agora nem querem sequer ouvir falar.

QUE SAÍDA PERANTE ESTE BECO SEM SAÍDA?

Na verdade, de um modo geral, não há saída que nos ilibe totalmente da carestia de vida, mas de qualquer modo, é possível reduzir os gastos, limitando o que se tem de comprar. Tudo passa por fazer contas à vida como se sói dizer.

Uma das despesas que se pode evitar é a dos celulares, em que um pai ou mãe podem não comprar celulares para todos os seus filhos. Outra saída, no caso dos celulares, é fazer poucas chamadas e optar sempre pelo envio de sms´s ou mesmo voltar a dar preferência ao telefone clássico, o chamado fixo.

Para o caso dos bens básicos de consumo, deve-se optar pelos mais baratos mas sem descurar a qualidade.

Por exemplo, o molho de amendoim pode ser um substituto à caríssima carne de vaca e do peixe. Outra das formas de evitar gastos desnecessários é evitar fazer festas onerosas, tais como as de aniversário.

Para isso, devemos adoptar o estilo dos ocidentais em que uma festa é mais um convívio de pessoas da família e amigos para celebrar juntos uma data especial e não para esbanjar, e assim evitam incorrer em gastos exorbitantes como é prática em muitas famílias moçambicanas.

Pessoalmente, já estive em festas que me fizeram recordar as famosas ceias dos tempos do Império Romano, em que os convidados tinham de ir aos vomitórios para vomitar o que haviam comido, para abrir mais espaço nas suas barrigas para poderem continuar a comer porque a comida nunca mais acabava.

No lugar de fazermos festas sempre que o pai, a mãe ou os filhos completarem anos, poder-se-ia optar por uma única festa de aniversário e nele se fazer a festa de cada um e todos os membros do agregado familiar.

De certa forma, esta prática até dá mais um tom de graça e um ambiente mais festivo do que se gastar muito dinheiro numa única festa de aniversário.

Outrossim, em vez de cada membro da família pegar no seu carro mesmo quando todos vão para a mesma direcção e sentido, há que se passar a optar por usar o mesmo carro, para poupar o combustível e minimizar o desgaste da viatura.

Com este modo de vida, chega-se a poupar muito dinheiro num ano, que acaba servindo para aplicar em coisas mais úteis e prestáveis.

É imperioso que cada um de nós saiba de cor e salteado a tese de Honeré de Balzac, de que só quem se priva de certas coisas pode poupar.

“Vamos a isso gente”, como dizem os brasileiros, porque sem poupança, não há economia familiar e, sem economia das famílias, o próprio país não pode desenvolver, porque é do que se poupa que se pode fazer um investimento.

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quinta-feira, março 04, 2010

Há ou não desenvolvimento em Moçambique?


Do paradoxo da percepção do povo e dos Relatórios

Sempe defendi o princípio de especialidade, mesmo, para defender a ideia de que o especialista é autoridade na sua área. Sei que me estou a meter em caminhos desconhecidos e que, posso me perder na abordagem, mas nada me impede de tentar, até porque se conseguir a reacção de especialistas, dar-me-ei por satisfeito.
O meu trabalho me permite andar um pouco por todo pais, desde as cidades, distritos, vilas e localidades e, sob olhar insuspeito, assisto um pouco por todo lado sinais claros de mudanças e avanços e, nunca perco uma oportunidade de dialogar com a população, mesmo para ter a sua percepção sobre o desenvolvimento. 
Elogia-se um pouco por todo lado o crescente fornecimento de serviços básicos, de saúde, educação, água e saneamento e a população tem sabido buscar exemplos recentes para explicar a diferença quantitativa/qualitativa entre ontem e hoje. Dizem-se satisfeitos na sua maioria, embora apontem algumas áreas de estrangulamento, como os da água e da saúde apesar de esforços feitos no sentido de melhoria.
Mas fora os depoimentos populares, consegue-se vislumbrar uma espécie de orientação para o desenvolvimento, onde se definem campo específicos de actuação como o de saúde e educação que quanto a mim, pese embora os percalços, registam-se melhorias.
Sempre se dirá, que na educação por exemplo, o crescimento foi quantitativo, mas, tal, representa um excelente ponto de partida quando se pretende alcançar a qualidade, ao que, doravante exige-se uma orientação de esforços para a qualidade, um plano estruturante.
Ora, um dos problemas que se colocam numa economia de mercado é a questão da planificação, porquanto, se diz ser difícil planificar num mercado que se auto regula. Na verdade, evita-se aqui e percebe-se que o Estado tome uma posição orientadora, dirigista  e/ou intervencionista, mas quanto a mim e principalmente em economias africanas será sempre necessário planificar (se bem que em todas as economias mundiais), até porque hoje, a questão de eleger o Distrito como pólo de desenvolvimento e aliado a atribuição de um orçamento (7 milhões), mostra-se, um plano de desenvolvimento muito mais ambicioso e que quando bem monitorado pode produzir os frutos que se pretendem e me parece que em alguns lugares já produz.
E, me parece ser aqui, onde nasce, a questão da percepção do desenvolvimento em Moçambique, pois, o povo, este, sente que estamos a avançar, quando os doadores, acham que não.
A mim, parece-me que os doadores não estão satisfeitos com esta visão do Distrito como pólo de desenvolvimento e nem com o desenvolvimento que os sete milhões podem criar. Assusta-lhes que estejamos a tomar medidas para o desmame e quando nos devemos manter dependentes. Preocupa-lhes que nos seus prognósticos digam que cresceremos em 2% por exemplo e os surpreendermos com um crescimento na ordem dos 6%.
É que, o ideal para os doadores seria em que numa situação em que a previsão de crescimento aponta-se em 2%, nos situássemos nos 0,1 a 2% e nunca num número superior ao previsto, isto porque estaríamos a contrariar a lógica dos seus números que se presumem acertados, números que devem crescer ao ritmo e sabor deles, números que os devem obedecer, números que não corram, senão quando lhes convém e quando querem provar algo.
Logo se vê que para estes países, não é o nosso desenvolvimento que lhes interessa, interessa-lhes sim, que sirvamos de amostra de que os países africanos não podem lograr um desenvolvimento sustentável, interessa-lhes que descarrilemos para mostrarem como estavam certos nos seus prognósticos, para que finjam sentarem-se para elaborar mais um plano e/ou metas de desenvolvimentos dos gabinetes dos seus arranhas céus, sem atenderem as nossas reais necessidades.
E os 7 milhões parecem querer contrariar esta lógica e, isto não lhes agrada. Não lhes agrada, quando queremos dar renda e por conseguinte a produtividade do pequeno camponês, comerciante, e, não pode agradar porque estamos a focar a luta contra a pobreza com argumentos certos: criando rendimentos a quem não os tinha.
Daí que, não seja estranho que o pais, estando a mostrar sinais claros de desenvolvimento, apareçam relatórios que nos coloquem numa  posição que contrarie a realidade, mesmo quando notamos melhorias nas infra-estruturas básicas, como estradas e pontes, energia e comunicações, mesmo quando intensificamos as políticas de desenvolvimento na base, mesmo quando aumentamos a produtividade dos pequenos agricultores.
Estes relatórios, são instrumentos castradores das iniciativas de desenvolvimento da economia moçambicana, são obstáculos que enviesam as boas políticas de estruturação económica e de promoção de bem estar para todos.
Há sim desenvolvimento e esforços de desenvolvimento em Moçambique e isto é visível a olho nu, o povo o sabe. Negá-lo, faz parte da estratégia de quem nunca realmente se interessou em nos ver a avançar, de quem nunca quis que tivéssemos ideias próprias, de quem a nossa fragilidade é garantia efectiva da sua existência.
Tomara pois, que um dia sejamos a voz da nossa própria razão e os relatores sejamos nós mesmos, que o orçamento sejamos também nós, que sejamos nós a definir com clarividência a nossa política económica, social e cultural.

Alfredo Jamise

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