Segue-se o extracto da entrevista concedida pelo semanário SAVANA à Jorge Rebelo, sobre a Juventude:
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Jorge Rebelo
Entrevista conduzida por Ericínio Salema e Paola Rolletta
Os jovens têm alguma chance na actual liderança da Frelimo?
- Não diria se têm ou não. A meu ver, não há outra alternativa, senão os jovens assumirem o seu papel. O problema é que os jovens ficam à espera de ordens. Eles têm que conquistar o seu espaço, como fizeram os “jovens do 25 de Setembro”.
Está a dizer que a juventude moçambicana é preguiçosa?
- Não. Ela ainda não assumiu essa necessidade. Os jovens têm que envolver-se, têm que reclamar o direito que têm de participar da governação do país. Agora temos, por exemplo, a luta contra a pobreza, na qual os jovens têm que se envolver como fizeram os do “25 de Setembro”, visando a libertação do país. Em relação à corrupção, ela é de facto uma das grandes queixas dos jovens actualmente. Falo da corrupção generalizada, que é vista como impune. Então, os jovens, já que o sistema é assim, eles é que têm que se envolver, denunciando, reagindo, pautando-se por comportamentos de honestidade.
A que jovens se está a referir? Aos da Frelimo ou a todos os jovens moçambicanos, numa altura em que um general da Frelimo veio a público dizer que os jovens podem vender o país?
- Li isso e tentei interpretar. A interpretação que eu dou é esta: há jovens cuja única preocupação é darem satisfação aos seus interesses. E nós vemos que muitos jovens estudam, tiram cursos e a sua única preocupação é arranjar um emprego, que os remunere muito acima da média. Nesse processo, muitas vezes eles não olham a meios, daí envolverem-se em esquemas.
Não acha que os jovens fazem isso por causa dos exemplos que (não) têm?
- Essa é a questão. O exemplo é fundamental. Samora, por exemplo, dizia: “um dirigente pode fazer mil discursos sobre o mal que significa roubar bens do Estado, mas se ele roubar, ninguém lhe vai dar crédito”. O exemplo arrasta; as palavras talvez influenciem. Portanto, não há dúvidas de que os jovens têm, hoje, maus exemplos. Vêem muitos dirigentes, não todos, a enriquecerem sem olharem a meios. Então, isso passa a ser visto como uma coisa normal, aceitável. Sobre como mudar o exemplo, o nosso exemplo, teríamos que nos mudar a nós próprios, o que é mais difícil.
SAVANA – 04.07.2008
SAVANA – 04.07.2008
