quarta-feira, dezembro 30, 2009

Manuel Araújo está a sendo cobarde ao se passar de OUTSIDER na Renamo

Por: Fanhana

Nada tenho de pessoal contra Manuel Araújo que o admirei por ter um dos primeiros jovens a saltar do sistema, do ministério da juventude (departamento de relações externas) e tomar um rumo outro com posições que iam contra as contínuas tentativas de "enquadramento" da juventude em Moçambique. Acompanhei pela documentação nas minhas pesquisas o interesse e luta que travou em prol dos jovens em Moçambique na altura da criação do CNJ em Xaixai com o seu grupo "qualquer coisa da mudança" na companhia do actual boss do Parlamento Juvenil na qual perderam porque o vermelhão não tinha confiança neles e queria assaltar o CNJ o que veio acontecer até hoje.

Preocupa-me a entrevista que ele fez no último Magazine Independente saído hoje terça-feira. A primeira feita ao mesmo jornal um pouco depois da criação do MDM e antes das eleições até gostei, era mais desapaixonada, mais profícua na análise e era visionária nas propostas em relação ao cenário político nacional. Nesta última embora reconheça MEA CULPA no "regresso ao mono partidarismo" acho que na análise que faz da Renamo está sendo COVARDE demais para alguém que foi membro activo e deputado parlamentar durante uma legislatura inteira (5 anos) pela Renamo e sobretudo peca por querer ser um OUTSIDER do processo de regresso ao mono partidarismo e fragilização da Renamo.

No dicionário que tenho vem que "covarde" é igual a "cobarde" que significa "que ou aquele que não tem coragem; poltrão; medroso; traiçoeiro; que trai". É isso mesmo que quero dizer dele e acrescento o facto de querer se fazer passar de BOM SAMARITANO POLÍTICO. Porquê cobarde? Primeiro eu pessoalmente tinha tantas expectativas com a sua entrada no Parlamento para que dinamizasse do ponto de vista político-partidário (na Renamo) e legislativo (na assembleia) que "a (s) juventude (s) " fosse prioridade "de facto" e não "de jure". Que a juventude deixasse de ser slogan político em ambos partidos. Não me lembro de alguma iniciativa legislativa pró jovens por si ou pelo seu grupo parlamentar apresentado. Não me lembro de um movimento de advocacia ou interpelação ao governo, sociedade civil sobre algum assunto que preocupasse a juventude. Não me lembro em algum momento nas sessões de perguntas ao governo ter "encostado" o ministério da juventude ou seu representante máximo sobre políticas concretas e programas específicos pró jovens. Existe a politica nacional da juventude que hiberna nas gavetas e cujo esboço de rectificação já está desactualizado; existe a Carta africana da juventude, uma espécie de declaração pró jovens que deveria orientar as políticas governamentais para jovens assinada pelos chefes de estado da União Africana incluindo Moçambique, não me lembro de ter se batido nela para ser conhecida pelas organizações de jovens e com base nela interpelarem o governo; não me lembro de ter se batido nela na Assembleia, embora conheça-a e participe muito nos fóruns regionais e continentais onde esses instrumentos orientadores de políticas e programas são desenhados e aprovados. Neste sentido, acho que traiu anseios de alguma juventude que tinha esperança. E, tinha a vantagem de fazer parte de um partido menos totalitário.

O segundo ponto de discórdia com ele que é cobardia é o posicionamento que faz da situação da Renamo, sobretudo a sua fragilização. Acusa o líder do Partido de ter traído o povo e os membros, acusa-o de se ter vendido por cinco dinheiros. Pouco conheço das dinâmicas internas lá dentro senão do que vem a imprensa, mas nesse ponto creio que também Manuel Araújo foi um "Judas" na Renamo, foi dos que menos se posicionou explicita e publicamente em relação ao que se passava internamente, sempre preferiu o silêncio e as fugidinhas para o exterior. Quantas vezes sentou com o líder do partido para lhe sugerir algo de solução em relação a situação interna da Renamo? Quais foram os conselhos que deu ao líder e/ou aos órgãos internos que não foram acatados? Alguma vez terá sentado com a Liga da Juventude da Renamo para propor algo de alternativo em relação a forma como o partido deveria ser gerido e funcionar? Contrariamente aos seus homólogos "académicos/intelectuais" que vieram ao público e criticaram e até atiraram a toalha ao chão, o Manuel Araújo preferiu o silêncio, para mim um silêncio estratégico. Para mim ele tanto culpado como Dlhakama que o acusa, para mim ele também é tanto Judas como Dlhakama que o acusa.

Eu atrevo-me a dizer que se Dlhakama se vendeu por CINCO DINHEIROS, o Manuel Araújo se vendeu por VIAGENS. Quando aproximavam os momentos quentes para tomar posição internamente, ele viajava. Dirá que as viagens feitas fora foram fruto de relações tecidas antes de ser deputado ou à custa de habilidades pessoais de se relacionar. Sim de acordo, mas o facto de ser deputado da Renamo ajudou a estender e consolidar a rede dessas relações externas que muitas das vezes tinham que ser em benefício do partido Renamo, mas que o deputado capitalizou em redes pessoais. Não estou a lhe acusar de nada, mas o sr. fazia parte das relações externas da Renamo e ai ninguém se preocupou consigo, foste as conferências de partidos da oposição, cimeiras sobre assuntos quentes globais, reuniões de parlamentares africanos, da SADC, etc., etc. tudo isso a custa da Renamo. Todavia, não me lembro em algum momento ter visto a Renamo a assinar algum memorando de entendimento, acordos de parceria política, acordos de apoio político institucional e técnico (que tanto o partido precisava para desenvolver-se institucionalmente) etc., etc. com seus homólogos externos, como prova da sua produtividade no exterior como membro e deputado da Renamo. Se havia viagens de natureza pessoal, as minhas desculpas, mas acho que deixou uma fronteira cinzenta de forma deliberada entre as viagens institucionais do partido e as suas pessoais, para tirar benefício próprio disso, provavelmente.

Finalmente considero-o o culpado também e mais uma vez covarde porque nunca quis se assumir como político no activo. Quando académico quis ser político e fez politica até entrar no Parlamento. Já no parlamento como deputado, não quis meter a mão ou a cabeça na massa como político, vestiu a capa de um académico emprestado de político. Não há problema em adoptar esses malabarismos, que até são típicos do campo em que está a agir, o problema para mim é vir no fim tomar uma posição do tipo "os outros é que são culpados", uma posição de um "não me misturem no fracasso", do tipo "eu nunca bati em nenhuma lata no parlamento" e sobretudo do tipo "quando se batiam nas reuniões eu não estava". Enfim o problema grave que tenho intelectualmente com Manuel Araújo é querer se fazer agora de um OUTSIDER tanto dos problemas da Renamo como dos problemas do Parlamento. Ele é tanto culpado como a liderança da Renamo porque não fez nada. Os que se bateram e viram que a pedra não ia furar com tanta água que deitavam, atiraram a toalha e saíram publicamente para não se identificar com esses processos. Se ele não o fez, é porque o mel estava bom. Se estiver errado, a sua trajectória cívica política no futuro vai me demonstrar.

Não é nada pessoal, apenas acho que não pode saltar fora desse jeito, fere o nosso bom senso.

Estou aberto a um rebater de argumentos Tète à tète

Prospero 2010 a todos.


Hahatawonana


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