segunda-feira, junho 22, 2009

UM SONHO TORNADO REALIDADE




Quando pensamos que já exploramos tudo que há no Universo das emoções e nos sentimos gigantes e fortes, descobrimos que ainda somos meninos, meninas frágeis que desconhecem os segredos que tecem a vida. Quando isso acontece, derramamos ininterruptamente lágrimas não de tristeza, mas de felicidade. Choramos não pela pobreza, miséria e injustiça social no país, mas por nos apercebermos que podemos proporcionar um minuto de alegria aos nossos compatriotas. Sentimos que a discriminação e a apatia podem gerar a solidariedade. Foi este sentimento que tivemos no passado dia 20 de Junho, quando voluntariamente colocamos a planta dos nossos pés na pediatria do Hopistal Geral da Machava.


Quando Nyikiwa me incumbiu esta nobre tarefa de relatar o sucedido, resisti o quanto pude, esperneando de todas as maneiras possíveis, pois temia (e ainda temo) não poder transmitir fielmente e na integra o amor vivido naquele espaço. Por favor, perdoe-me se porventura nao sentirem as mesmas emoções que testemunhamos in loco!
Já deviam ter passado trinta minutos da hora combinada quando cheguei ao HGM, deparei-me com Ximbitane e Yndongah, minutos depois chegava Nyikiwa e Nyabetse, instantes depois chegava Joaquim Chacate e Jorge Saiete. Ta Basily também honrou-nos com a sua presença. Estava tudo a posto. Foi incrível e impressionante o nível de organização das Vasikate. É impossível descrever a qualidade da organização, pois pode soar à bajulação. Manas, é de louvar a vossa atitude! Vocês demonstraram que são persistente, prudentes e ousadas. Estão de parabéns pela coragem e entrega (é raro encontrar pessoas que façam coisas sem pedir algo em troca), saibam que é de gente como vocês que Moçambique precisa.

Ficamos também surpresos e emocionados com a beleza da pediatria. Olhamos para os quartos, as camas, os lençóis, o refeitório, as casas de banho, as paredes, o chão e o tecto, e sentiamos uma fragrância antes experimentado. Subitamente, o nosso coração foi invadido por um mar de lágrimas. Algo nos dizia que já tinhamos visto um lugar igual àquele, só não nos lembravamos aonde! Em pensamentos lembramo-nos, que cenário idêntico àquele só tinhamos visto nos filmes hollywoodianos.

Após a leitura do discurso de agradecimento dos bloguistas pelo Chacate, e uma palavra de apreço da directora da pediatria e algumas mães dos meninos, das meninas recolhido(a)s naquela unidade hospitalar, era chegada a hora da festa. Os petizes tomaram o lanche e brincaram com o palhaço. O Ta basily fez jus à popularidade da sua pessoa e das suas músicas abrilhantando o espaço. Num ambiente de muita animação e diversão, os pequeninos esqueceram por um instante a dor que os apoquenta. Com muita alegria e satisfação, receberam os brinquedos. Quem pensou que as vasikate não dançavam, enganou-se. Como ninguém, demonstraram ser especialistas em matéria de dança (Xim e Yndongah, imploro-vos que na próxima ocasião ensine-me os passos, hehehe). Os funcionários da pediatria não quiseram ficar alheios, tomaram as rédeas e mostraram o que é realmente ser moçambicano. Em muitos momentos não podemos conter as lágrimas de alegria, porque sentiamos os nossos sofrimentos, a nossa apreensão e os nossos pensamentos mais íntimos como se estivessem sendo escancarados ali. Felicidade e Amor. Penso que são as únicas palavras que servem para descrever fielmente o que ali brotava. Quão gratificante é uma atitude quando se consegue arrancar o sorrisso de uma criança, mesmo que ela padeça de alguma enfermidade!

É igualmente gratificante - quando menos esperavamos - ouvir as mães das crianças internadas dizer um “Khanimambo”, carregado de benignidade, honestidade e acima de tudo profunda sinceridade. Isso não nos envaideceu, pelo contrário, mostrou-nos que a vida é maravilhosa quando não esperamos recompensa nas nossas acções.
Saimos do hospital alegre, não por que oferecemos bolachinhas, mas porque temos a certeza que demos “uns raios de sol e um pouco de água”(amor, ternura e carinho) para que as “flores que nunca murcham” continuem a crescer, a acreditar e a terem esperança num Moçambique melhor, pois cremos que elas são a maior riqueza que o país se deve orgulhar.

A nossa saída foi bastante animada. As mães das crianças - com os seus rebentos na costas e nos braços - e todos os funcionários da pediatria fizeram questão de nos levar até a porta (símbolo de hospitalidade) num ambiente de verdadeira festa. Cantavam músicas tipicamente moçambicana. Tudo quanto tem fôlego foi usado para animar o dia.
Derramamos lágrimas de alegria por sabermos que existem pessoas que ajudam, elogiam, constroem, desejam o bem, amam e são verdadeiros. Alegra-nos saber que podemos dispender as nossas energias e um minuto da nossa vida para elogiar e erguer os outros, e não ficamos apenas no uso da palavra, mas agimos com o fito de proporcionar um segundo de paz a pequenada. É uma alegria enorme saber que podemos transformar a tristeza, a dor e as lágrimas em sorrisos.
“Vão em paz e voltem quando quiserem, amigos da pediatria!”, foram essas palavras portadoras do vírus do amor e da esperança que ouvimos aquando da nossa despedida.



SALUTAR PROVOCAÇÃO*
Tomem cuidado, porque o texto que se segue é fogo. Entretanto, não vós zagueis comigo, tomem-no como uma demonstração cabal de amor e como já deves saberdes, o amor costuma ter destas coisas. Portanto, antecipadamente peço-vos desculpa por tudo que aqui digo. Desde já gostaria que ficasse nítido na papa do vosso cérebro que o texto reflecte única e exclusivamente uma opinião pessoal, isto significa dizer que não tem nada a ver com os bloguistas presente no passado sábado, dia 20 de Junho do ano em curso. É de salientar que, as honrosas excepções vão para aqueles que previamente demonstraram a sua indisponibilidade em comparecer no dia combinado devido aos seus inadiáveis afazeres.

Amados irmãos, no dia 9 de Maio quando se propôs o projecto de oferecer um dia diferente as crianças internadas na pediatria do Hospital Geral da Machava, gesto enquadrado numa iniciativa que faz parte de um leque de acções de Responsabilidade Social que nos, os bloguistas moçambicanos, pretendemos levar a cabo com a finalidade de demonstrar a nossa cidadania e solidariedade, mostramo-nos apto e acolhemos a iniciativa. Acenamos a cabeça, mostrando sorriso pepsodent como que concordavamos em tornar realidade este sonho. Feito isso, era chegada a hora de honrarmos com os compromissos assumidos. Eis que a vossa covardia entrou em acção. Isto é, naquele dia, vós estivestes a agir hipocritamente, fingindo-se leais.

Que espécie de moçambicanos sois vós? Não sóis vós insensíveis e mentirosos como os oportunistas de turno de que é composta o parlamento e governo deste país? Não, não…vós não sois insensíveis. Sois uma corja de pró-mentira-em-acção.
Se o problema foi a exiguidade de finanças ou indisponibilidade, por que não informastes com antecedência? Ficais quieto, de persianas fechadas, sem dar sequer uma única satisfação. Todo ser humano passa por turbulências em sua vida, mas isso não significa que deves ficardes de costas voltadas a realidade, que deves mentirdes que ajudarás ou comparecerás. Eu não me envergonho de falar a verdade e, por isso, destesto e repudio pessoas que cultivam a hipocria como vós sois.

Que Moçambique pretendemos com seres inresponsáveis, incapazes de se misturarem com crianças enfermas e mães que conhecem o dura da vida vivida à intempérie?
Vós fugis dos hospitais? Por que evitais levantar a mão para aliviardes por alguns segundos a dor dos vossos compatriotas? Tendes medo dos hospitais, tendes medo de ser conotado de doente de tuberculose, tendes medo de contrair malária, sarampo ou fugis dos quadros triste (pranto de dor das crianças) que se desenrolam nas pediatrias gravados na vossa glândula tiróide quando crianças? A imagem da mulher de bata branca com uma seringa na mão ainda vos atormenta? Ou sois limpos e puros de mais para pisardes os hospitais? Andeis sempre de fato e gravata, pórem, não querdes contacto com petizes enfermos. Ou temeis ver o estado deplorável em que a maior parte dos hospitais se encontram no país?

Não sois vós o culpado pela pobreza, pelo sofrimento que aflige muito dos nossos irmãos e nossas irmãs, os verdadeiros moçambicanos?
Quando sairam dessa covardia, onde não tendes tido coragem de sair? Quando é que a vossa insensatez dará lugar à sabedoria? Quando o país for invadido por tiranos? Ou quando a desgraça ou a enfermidade se instalar nas vossas casas? Optais sempre por cultivar a mentira. Até quando continuareis a usar máscara e a mentir a vós próprios?

Vendo as fotos do dia 9, os vossos olhos brilhando de álcool, fico com a sensação de que sois por excelência hipócritas e mentirosos. Onde está a graça em vós? Será que pode haver graça onde só há artificialismo crasso? Eis a vossa desgraça, para infelicidade deste país.
Vós pensais que sois filhos unigênitos, primogênitos ou predilectos de Moçambique e por isso ficais longe dos duros combates de que a vida é feita? Por favor, não penseis que estou a me achar exemplo acabado de moçambicano pelo simples facto de ter dado uma hora do meu tempo para estar com aqueles petizes.


Amados, redimi-vos!
Mais uma vez, perdoe-me, por favor, tomem como uma mera provocação para uma posterior reflexao. O amor a “pátria amada” e os seus “milhões de braços” tem destas coisas. Recebam um abraço com muito amor e carinho, e lembrem-se que vós sois insubstituíveis!
Shirangano, sempre na paz!

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4 comentários:

Basilio Muhate disse...

Boa provocação, fiquei com algum peso de consciência por não ter ido a Mavalane hehehe... Mas tenho que confessar que melhor do que a provocação foi o gesto concretizado ! Parabéns a todos !

Um abraço
Basilio

Anónimo disse...

Hahaha Basilio... Nao e Mavalane e Machava! Perdeste e como perdeste!

Shir, ves que nao enganei-me ao incumbir-te a missao de relatar o facto? Relataste-o muito bem! Gostei da provocacao, Parabens!

Quem nao foi a semelhanca do Basilio perdeu e muito! Da proxima vez nao iremos relatar...

Julio Mutisse disse...

Shir, é frustrante saber que, de um universo de 25/30 pessoas presentes a 9 de Maio na AEMO, só uma ínfima parte contribuiu e, dos contribuintes, só 7 se fizeram presentes na Machava (sendo eu um dos ausentes).

O mais importante meu caro amigo é que conseguimos. O nosso esforço deu alegria àquele conjunto de crianças. Como bem dizes no post, não haverá nada que suplante os sentimentos experimentados naquele dia.

Ficaremos tristes por aqueles que disseram sim e fizeram NÃO. Mas as nossas consciências que fiquem limpas e os nossos corações com a sensação do dever cumprido.

Mutisse,

PS: Sem me arrepender de todo de ter ido a Nwajahane (em diversas actividades há um conceito que é "team building" estou, na minha vida, a desenvolver o conceito de "family strengthening" razão porque tinha que ir a Nwajahane) sinto uma pontinha de inveja de não ter lá estado. Mas enfim, oportunidades não faltarão e observarei as fotos como se tivesse estado lá.

Shirangano disse...

Caro Basílio,
O objectivo da provocação é realmente esse: levar os bloggers a uma reflexão. Fico feliz por sentires “algum peso na consciência”, pelo menos, acolheste a mensagem e espero que os outros façam o mesmo. Leve também um abraço!

Estimada Nyikiwa,
Confesso que relatar o acontecimento foi uma missão difícil a julgar pela qualidade do evento e as emoções ímpares e indescritíveis vividas. Faltam palavras para dizer o que realmente aconteceu. De facto, quem não foi perdeu. Muita força!

Ilustre Mutisse,
É gratificante saber que podemos transformar lágrimas em sorrisos. Tudo depende da sinceridade e honestidade para com os outros e para connosco mesmos. A vida é maravilhosa quando temos a “consciência limpa e o coração com o sensaçao do dever cumprido”.
Como ja deves ter lido na introduçao ha honrosas excepções. Ficamos triste com atitude de alguns bloguistas que nao derao satisfaçao. Oportunidades nao faltarao para provarem a sua seriedade.
Um abraço!