Por: Tito Livio Mota
Caros amigos,
Não tenho por costume meter-me onde não sou chamado mas, em matéria dedemocracia todos somos chamados e implicados.Quando esta padece num canto do globo, no outro extremo, mais tarde oumais sedo esta acaba por padecer.Não, não é papel do estado decidir o que se deve ou não dizer,publicar, cantar, pintar o sete ou outra coisa.O dever do estado é o de garantir o livre acesso a todos à expressão.
O que não agrada a uns, agrada a outros.O que é ofensa ou palavrão para uns é piada ou crítica para outros.E se ofende este ou aquele ou a generalidade das pessoas, compete aocidadão e somente ao cidadão (individualmente ou colectivamenteatravés de associações ad-oc) o papel de protestar ou por bom termo aosucedido ou cantado.
Em caso nenhum este papel compete ao Estado, pura e simplesmente portal não é nem deve ser a sua função.Senão, onde acaba a censura e começa a obra civilizadora que algunspodem pretender encarnar?Quem lhes dá tal direito?O facto de terem obtido a maioria?E o direito das minorias?E o direito à subversão, ao protesto, à tomada de caminhos diferentesdos da maioria, que é a essência mesma da arte?Que paternalismo é esse o de um estado que se pretende superior àopinião pública ou, o que é pior, representante superior da mesma?
Mal vai um país que precisa de ministros para lhe dizer o que é bom ouo que é mau. Cuja população espere pelo Estado para policiar a livremanifestação de opinião ou da expressão de cada um.Já imaginaram o que seria da Europa ou da América do Norte se o Estadose metesse a impor a vontade da maioria branca sobre as expressões dedescontentamento (por vezes verbalmente violentas) das populações deorigem imigrante?E que seria feito de programas e jornais satíricos extremamenteousados como os que se vêm na Europa e que são o mais alto sintoma daliberdade de que se goza nesses países.
Claro que todos os governos tentaram proibir tais programas e jornais,mas, felizmente, existe uma opinião pública organizada que os impediu,pelo menos até agora.Muita da música RAP é extremamente sexista. As mulheres sãoapresentadas como inferiores, e até enxovalhadas em muitos videoclips.Mas tem havido debate e, se há quem continue a ouvir ou a aprovar talsituação, é com conhecimento de causa.
Ninguém pede para se proibir essa música, que, aliás, o mais das vezestem mais qualidade musical do que muitos RAP bem pensantes que sevendem por aí. Talvez estes últimos façam bem à condição feminina (eestou de acordo que o façam) mas, o mais das vezes fazem muito mal àmúsica.E é por isso que as pessoas continuam a ouvir os primeiros, e nãosomente por serem parvos.Num país com cidadãos adultos o Estado não deve meter o bedelho no querespeita à expressão pública.Senão é porque se consideram os cidadãos como menores mentais.E os menores e os atrasados mentais não têm direito de voto.
Tito Livio Santos Mota
Montpellier
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